O que é música sacra?

Lá se vão praticamente 40 anos desde que começamos a trabalhar na igreja, numa área que considero de muita complexidade, a música. E usando essa música para ser aplicado nas liturgias das igrejas, vejo-a ainda mais restritiva por se tratar de música sacra. Começa aí o primeiro motivo para polêmica. O que é música sacra?

Na minha dissertação de Mestrado em 2006, pela Universidade Federal de Goiânia, sob o título “Cursos Evangélicos de Graduação em Música Sacra no Brasil: Contextualização e Sugestões Curriculares”, a partir da página 14 tentamos fazer uma conceptualização do termo “música sacra”. Após a citação de inúmeros dicionários, autores, escritores e críticos, desenvolvemos o seguinte resumo: “Com isso são classificadas de Música Sacra, ... todas as músicas litúrgicas e não-litúrgicas, as músicas de igreja, as músicas evangélicas e também a música religiosa popular. Na verdade o termo música sacra é conhecido popularmente como sendo qualquer música usada nos cultos, atos ou ritos religiosos”.

E aí é que começa o perigo. Se, pelo resumo dessa classificação de Música Sacra, concordarmos que “qualquer música usada nos cultos, atos ou ritos religiosos” pode considerada música sacra, corremos um imenso perigo de colocarmos nos nossos cultos dominicais músicas que vimos ou ouvimos tocar ou cantar em outros “cultos, ou atos, ou algum rito religioso”, sem se preocupar com a origem da música, quem foi o autor, e para qual finalidade foi escrita.

Alguns certamente dirão, isso é irrelevante, ou seja, a origem, o autor e a finalidade, são irrelevantes se a letra é objetiva e a música agradável.

Quero, porém, voltar aos textos bíblicos, onde Deus faz as suas exigências sobre as ofertas que deveriam ser apresentadas a Ele. E eu vejo a música como uma oferta que nós trazemos a Deus. Concordam?

No livro de Levítico, que trata das leis que determinam como as ofertas ao Senhor Deus deveria ser trazido, repete-se praticamente em todo o livro: “se a sua oferta por sacrifício pacífico ao Senhor for gado miúdo, seja macho ou fêmea, sem defeito o oferecerá” (Lev. 3:6). Deveria ser um animal escolhido e preparado especificamente para ser oferecido ao Senhor. As exigências pela qualidade do que é oferecido a Deus começa aí. Desde o óleo sagrado para as unções (Êxodo 30:23-33), o incenso sagrado (Êxodo 30:34-38), os utensílios para as cerimonias e as vestimentas, tudo deveria ser separado especificamente para ser apresentado ou oferecido ao Senhor.

Portanto, creio que as exigências em relação a musica que deveria ser apresentado, era a mesma. No livro de I Cronicas 25, traz uma relação de funções que cabia aos músicos, e que tipo de música cada um deveria trazer. Os filhos de Asafe, por exemplo, ofereciam as músicas proféticas ordenadas pelo rei. Os filhos de Jedútum ofereciam músicas de louvor e gratidão tocadas com harpas. Os filhos de Hemã ofereciam músicas tocadas com címbalos, alaúdes e harpas. Eram músicas cuja origem era conhecida, ou do rei, ou dos líderes, os pais, cujas músicas eram feitas exclusivamente para os cultos.

Pensando assim, será que toda a música que ouvimos por aí é música adequada para ser oferecida a Deus?

Bem, esse assunto daria uma bela discussão em uma turma de “levitas” que dirigem a música nas igrejas. Deixo o assunto para sua meditação.

Até a próxima.